segunda-feira, 15 de janeiro de 2018


O que afeta o EQUILÍBRIO NA DANÇA?




A manutenção do equilíbrio, tanto no relevé, piqué ou piruetas é uma tarefa muito mais complexa do que parece. 

Mas a final de contas: "O que é equilíbrio?" "Existem vários tipos de equilíbrio?" "Como meus olhos estão relacionados ao equilíbrio?" "O quê? meus ouvidos também?"

O equilibrío pode ser definido como uma condição de um sistema em que as forças que sobre ele atuam se compensam, anulando-se mutuamente. Mas considerando que existem vários tipos de equilíbrio, como:


essa definição se torna muito generalizada e não nos fornece informação suficiente. Vamos focar no equilíbrio postural que nos é mais específico:

Equilíbrio postural é a habilidade de manter o  alinhamento e a posição corporal desejada durante uma atividade seja ela estática ou dinâmica (Cupss, 1997) tentando manter o centro de gravidade estável. 




Mas antes de falarmos mais sobre equilíbrio postural precisamos defnir o que é centro de gravidade.

O centro de gravidade pode ser definido como o único ponto de um corpo ao redor do qual todas as partículas de sua massa estão igualmente distribuídas (Lehmkuhl & Smith, 1989), é neste ponto em que a força da gravidade age.




No corpo humano o ponto de equilíbrio, ou centro de gravidade, é aquele ponto em que o corpo poderia ser rodado livremente em qualquer direção, ou o ponto que você consegue equilibrar o seu coleta no aviãozinho. :) 

                                                                                            


Mas esse ponto não é o mesmo para todas as pessoas. Ele muda de acordo com a idade, posição corporal e até sexo. Em mulheres o centro de gravidade tende a ser mais baixo do que em homens, porque mulheres tem mais massa no membro inferior enquanto os homens tem mais massa no membro superior. 



Como o centro de gravidade é o ponto no qual há o somatório das forças internas igualado ao somatório das forças externas, a modificação da posição também ocasiona modificação na posição do centro de gravidade. 



  
Quando nos posicionamos em primeira posição en dehors, o peso (massa x campo gravitacional sempre em direção ao centro da terra) do nosso corpo, deve estar distribuido entre as duas pernas. Mas ao realizar o tendu com uma das pernas, o peso deve ser transferido para a perna de base. Se não for transferido corretamente, o bailarino não conseguirá permanecer parado nessa posição.

Na foto abaixo a linha pontilhada representa a linha gravitacional, uma linha imaginária que passa pelo centro de gravidade no sentido vertical. Quando a bailarina está na primeira posição o peso deve estar distribuído entre as duas penas (próximo ao calcanhar). Mas em tendu o peso passa para a perna de base, e, para compensar a perna ao lado, o peso deve sere transferido para os dedos. 



Existem alguns fatores que ameaçam o equilíbrio, tais como fraqueza muscular, déficit de propriocepção e amplitude de movimento limitada ou excessiva. Vamos comentar sobre cada um desses fatores.

Para toda posição almejada um eixo diferente é necessário para a manutenção do equilíbrio. Desta forma, em qualquer movimento, com ou sem objeto sendo carregado, o centro de gravidade (ou de equilíbrio) é modificado, obrigando um grupo de músculos a se contraírem e outro a se relaxarem para permitir que o corpo fique nessa posição, sem cair. Esses músculos que estão em constante contração para manter a postura corporal ereta são em sua grande maioria músculos extensores, principalmente do pescoço, das costas e das pernas e são conhecidos como músculos anti-gravitacionais. A fraqueza desses músculos pode ocasionar a queda (normalmente para frente - flexão). 

Quanto mais difícil a posição em que se pretende equilibrar (ou seja, menor a base e/ou maior afastamento dos segmentos em relação ao centro de gravidade), maior a força e a quantidade de ajustes que os músculos tem que fazer para manter o equilíbrio.  



Como a estabilidade (habilidade de manter a posição original) está relacionada com o equilíbrio e o equilíbrio está relacionado com a manutenção do centro de gravidade dentro de uma base, o corpo humano precisa de um sistema para informar quando os músculos devem contrair ou relaxar para garantir o equilíbrio. Isso significa que quando estamos em pé, parados, os nossos músculos estão em constante contração e co-contração para garantir esse estado de equilíbrio. Nós não percebemos esse ajuste pois nosso corpo já aprendeu a regular as forças necessárias para a manutenção dessa posição. Porém, ao fechar os olhos por exemplo, você será capaz de perceber um maior esforço dos seus músculos para ficar na mesma posição. Ou então, quando você tem uma infecção no ouvido por exemplo, parece que você está tonto e não consegue ficar em pé direito.

Isso acontece porque os ajustes para manter o equilíbrio dependem do feedback sensorial (vestibular, visual e proprioceptivo) Frank e Earl (1990). 

O responsável por emitir as ordens de ajuste aos músculos é o sistema nervoso central. Este por sua vez, necessita de informações precisas sobre a posição de cada uma das partes do  corpo.

Existem receptores sensitivos localizados na pele e também mais profundamente nas articulações. Eles proporcionam ao sistema nervoso central uma valiosa informação sobre a posição do corpo e cada uma de suas partes no espaço. A visão proporciona uma ideia da posição do corpo, desta vez relativamente ao espaço, e também fornece pontos de referência. Por último, o aparelho vestibular do ouvido interno informa sobre a posição e os movimentos da cabeça.
Toda a informação chega de forma constante ao sistema nervoso central que analisa e, a seguir, ordena a contração ou o relaxamento dos diversos músculos corporais de acordo com as necessidades.

Já a amplitude de movimento pode afetar o equilíbrio devido a não obtenção de uma posição de melhor eficiência muscular. Vamos dar dois exemplos: um idoso que não consegue estender o tronco na posição ereta por falta de flexibilidade nos músculos flexores do tronco terá que fazer mais esforço para ficar em pé do que outro idoso que consegue estender o tronco completamente.



Na dança, vamos imaginar o aluno que não consegue realizar a meia-ponta alta por falta de amplitude de movimento dos flexores dos dedos e na articulação do tornozelo, neste caso, mais força muscular é necessária uma vez que não há alinhamento ósseo (a linha gravitacional deve passar por todos os óssos que se sobrepõe).



  Por incrível que pareça, o bailarino que tem muita amplitude de movimento, ou seja, a ponta muito arqueada, também encontrará dificuldades em manter o equilíbrio pelo mesmo motivo, mas pecando pelo excesso. O ideal para o equilíbrio é que haja amplitude de movimento (flexibilidade, vide posts anteriores) suficiente para que permitir o alinhamento ósseo e assim, a eficiência muscular.



Não importa se o equilíbrio postural pretendido é estático (como em balances) ou dinâmico (como em piruetas). Para melhorar o seu equilíbrio é necessário um trabalho combinado de flexibilidade, força e propriocepção. "De quais músculos/partes do meu corpo?" bom, isso é individual e deve ser identificado em uma avaliação física. 


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Referências:

Cupps B. Postural Control: a current view. Neuro Developmental Treatment, 14. p. 3-8, jan/fev. 1997

Frank JS, Earl M. Coordination of posture and movement. Physical Therapy, Alexandria, v. 70, p. 855- 863, 1990.

Lehmkuhl, L. Don; Smith, Laura K. Cinesiologia clínica de Brunnstrom, 1989.

Teixeira, C. L. Equilíbrio e controle postural. Brazilian Journal of Biomechanics. Revista Brasileira de Biomecânica11(20), 30-40. (2013)

Fotos: 
Capa -  Pilobolus (Flick)
Texto - Modificadas do Google imagens

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